
Carla Science
March 22, 2016
Ratinhos com Alzheimer recuperam memórias com estímulo de luz
Os primeiros sinais da doença de Alzheimer passam por esquecimentos. Não se sabia se estas memórias nem sequer eram guardadas ou se, estavam guardadas, mas os doentes no início da doença deixavam de conseguir aceder a elas. Uma nova investigação científica aponta para a segunda opção. O trabalho, feito em ratinhos que desenvolvem uma versão desta doença, mostrou que nas primeiras fases da Alzheimer as novas memórias são guardadas e, depois de esquecidas, podem ser recuperadas durante algum tempo, segundo o artigo publicado na última edição da revista científica Nature.
“O ponto importante é que este trabalho é uma prova de conceito”, diz Susumu Tonegawa, citado pela agência American Press, que pertence ao Riken-MIT Centro para a Genética dos Circuitos Neuronais, que fica no Instituto Massachusetts de Tecnologia, em Cambridge, nos Estados Unidos, e é o líder da equipa autora do trabalho. “Ou seja, mesmo que pareça que a memória tenha desaparecido, ela ainda está lá. É uma questão de saber como é que a recuperamos.”
A Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que costuma surgir em pessoas com mais de 60 anos. Uma das pistas mais importantes é o aparecimento no cérebro das pessoas com Alzheimer de placas de beta-amilóide, uma molécula composta por vários aminoácidos. Mas não se sabe se o aparecimento destas placas são uma causa ou uma consequência da doença de Alzheimer..
A estas alterações fisiológicas está associada uma sequência mais ou menos típica de sintomas que começam pelo esquecimento de memórias recentes ou por uma menor capacidade de atenção e de percepção das coisas.
A equipa de Susumu Tonegawa foi estudar em ratinhos a perda de memórias no início da doença. Para isso, os cientistas usaram um método de aprendizagem pelo medo. Colocaram ratinhos numa caixa onde são aplicados choques eléctricos fracos nas suas patas. Quando voltaram a entrar nas caixas, os ratinhos saudáveis ficaram paralisados de medo, mostrando que tinham memória do que lhes aconteceu. Mas os ratinhos que apresentavam os primeiros sintomas de Alzheimer movimentaram-se normalmente, não parecendo lembrar-se dos choques eléctricos.
Esta memória associada ao medo está codificada em células nervosas (neurónios) situadas no hipocampo – uma região que fica na base do cérebro. Os cientistas usaram uma técnica com vírus para detectar exactamente qual era o grupo de células responsável pela memória de medo do choque eléctrico durante a experiência. Depois de ter identificado essas células, a equipa usou outro vírus para introduzir um gene que torna aquelas células sensíveis à luz. Esta é uma técnica conhecida por optogenética, onde se aplica luz azul aos neurónios para os estimular.
Depois, os cientistas estimularam com luz os neurónios específicos da memória do medo dos ratinhos com Alzheimer que, aparentemente, tinham esquecido a experiência do choque eléctrico. E quando voltaram a colocar os ratinhos na caixa, eles paralisaram, mostrando que a memória estava lá. Mas em menos de um dia, os cientistas verificaram que os ratinhos voltavam a perder a memória. Por isso, a equipa estimulou repetidamente os neurónios com a luz, e os ratinhos conseguiram manter aquela memória de medo por mais seis dias.
Os investigadores verificaram que esta recuperação prolongada da memória estava associada a uma maior ligação física entre as células nervosas. Os neurónios comunicam entre si por contactos das membranas celulares, chamadas sinapses. Em ratinhos com Alzheimer, há menos contactos entre as células nervosas. “Mostrámos pela primeira vez que uma maior conectividade de sinapses pode ser usada para tratar a perda de memória em modelos de ratinhos no início da doença de Alzheimer”, diz Dheeraj Roy, citado num comunicado do Riken.
Fonte:https://www.publico.pt/ciencia/noticia/ratinhos-com-alzheimer-recuperam-memorias-com-estimulo-de-luz-1726812
visualizado a 27/03/2016 às 19:50
January 26, 2016
Descobertas na Madeira e nos Açores cinco espécies extintas no século XV
Quando descoberta pelos portugueses a ilha do Pico, nos Açores tinha uma vegetação mais luxuriante, com mais espécies animais. Na floresta de Laurissilva poderia encontrar-se o frango-d’água-do-pico, uma pequena ave que habitaria principalmente o solo. No entanto, os ratos-pretos que viajaram nas caravelas e naus portuguesas, e que chegaram àquela ilha, terão levado aquela espécie à extinção.
Tal como aconteceu em Madagáscar ou na Nova Zelândia, parte da fauna original dos Açores e da Madeira foi extinta quando os humanos chegaram lá. Um caso agora descoberto é o das cinco espécies de frangos-d’água que existiam na ilha do Pico, de São Miguel e de São Jorge, nos Açores, e nas ilhas de Porto Santo e da Madeira.
Uma equipa internacional estudou ossos encontrados naquelas ilhas, que permitiram descrever cinco espécies extintas há mais de 500 anos, segundo um artigo publicado agora na revista científica Zootaxa. Passo a passo, a paleontologia está a permitir a reconstituição da fauna natural que existia naqueles dois arquipélagos.
A equipa liderada por Josep Antoni Alcover, do Instituto Mediterrânico de Estudos Avançados, em Maiorca, Espanha, pensa que as cinco espécies do género Rallus evoluíram a partir do frango-d’água que ainda existe no continente europeu (Rallus aquaticus), incluindo em Portugal. Esta é uma ave migratória e é habitante no litoral de Portugal em zonas com água abundante.
Fonte: https://www.publico.pt/ciencia/noticia/descobertas-na-madeira-e-nos-acores-cinco-especies-extintas-no-seculo-xv-1721389
visualizado a 27/03/2016 às 19:33
March 18, 2016
O que é o monstro Tully?
Os vestígios fossilizados de Tullimonstrum gregarium ( monstro Tully) foram descobertos em 1955 pelo caçador de fósseis Francis Tully, em Mason Creek, uma importante jazida fóssil no Norte do estado do Illinois, nos Estados Unidos. Desde então, a origem evolutiva desta espécie tem sido um quebra-cabeças.
Quando saiu o primeiro estudo científico dedicado à espécie, em 1966, já o fóssil tinha ganho o nome de “monstro Tully”, inspirado no apelido de Francis Tully. Mas o artigo, publicado na revista Science, não arriscou a colocá-lo num dos grandes grupos do reino animal, como os moluscos, os artrópodes e os vertebrados, devido à sua estranheza. Nas décadas seguintes, cientistas especularam que a espécie teria sido um representante de um novo grupo animal, inexistente nos dias de hoje. Outros argumentaram que pertencia aos moluscos. E o ser foi ainda comparado com os poliquetas, um grupo de invertebrados.
Mas agora, um extenso trabalho de investigação que analisou 1200 fósseis diferentes de monstros Tully vem mostrar que estes animais eram, na verdade, primos das lampreias. Eram vertebrados tal como as lampreias, os outros peixes e toda a sua descendência evolutiva até aos humanos, de acordo com um estudo publicado nesta quinta-feira na revista Nature
Fonte: https://www.publico.pt/ciencia/noticia/o-que-e-o-monstro-tully-um-vertebrado-com-300-milhoes-anos-1726454
visualizado a 27/03/2016 às 19:17
February 23, 2016
Projectos sobre cancro, AVC e acidificação dos oceanos vencem prémios L’Oreal
Os prémios L’Oreal atribuídos anualmente a três mulheres que fazem investigação científica em Portugal distinguiram este ano projectos na área do cancro, das doenças cardiovasculares e da ecologia. Elisabete Oliveira, de 32 anos, Ana Catarina Fonseca, de 34 anos, e Ana Faria, também de 34 anos, vão receber nesta terça-feira em Lisboa cada uma delas a Medalha de Honra L’Oreal Portugal para as Mulheres na Ciência e 20.000 euros as investigações que têm em mãos.
Elisabete Ferreira está a desenvolver nanopartículas para o tratamento do cancro na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, na Costa da Caparica. O objectivo é construir pequeníssimas partículas (o prefixo nano transporta-nos para a escala do milionésimo de milímetro) que têm os condimentos para identificar e penetrar nas células cancerosas, libertarem um fármaco e matá-las.
O trabalho de Ana Catarina Fonseca centra-se também na saúde humana, mas em acidentes vasculares cerebrais (AVC). A investigadora doutorada em medicina trabalha no Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa, e irá tentar compreender a origem de uma parte importante dos AVC que hoje são classificados como indeterminados. “Desde há uns anos que tenho tentado ver se estes AVC podem ser reclassificados”, diz a cientista ao PÚBLICO.
O terceiro trabalho afasta-se da saúde humana para estudar a saúde animal e a dos oceanos. Nos últimos anos, Ana Faria esteve a analisar o desenvolvimento das fases iniciais de cinco espécies de peixe quando são submetidas a um pH mais ácido. Estima-se que o pH dos oceanos irá descer até 2100 de oito para 7,7, porque estão a absorver o excesso de dióxido de carbono na atmosfera, emitido pelas actividades humanas e responsável pelo efeito de estufa. A diferença de 0,3 “parece muito pouco, mas a escala do pH é logarítmica, e essa diferença é bastante”, diz a investigadora, doutorada em ecologia marinha, e a trabalhar no ISPA – Instituto Universitário.
March 02, 2016
Há um gene responsável pelos cabelos brancos
Quando nascemos, os folículos capilares já estão distribuídos pela pele. Ao longo do crescimento, os folículos produzem pêlos, barba e cabelo, consoante a região do corpo, o sexo e a genética de cada um. Estes factores dão alguma variedade entre humanos, mesmo se só olharmos para os cabelos: há cores diferentes, várias densidades e alguns são ondulados, outros encaracolados ou lisos. Com a idade, os primeiros cabelos grisalhos vão surgindo e muitos homens tornam-se calvos.
Toda esta dinâmica está ligada à actividade dos genes das células do folículo capilar. Agora, um estudo genético populacional associou vários genes a características do cabelo e da barba. Entre eles, está o gene IRF4, que foi associado pela primeira vez ao aparecimento dos cabelos brancos. O estudo, publicado nesta terça-feira na revista científica Nature Communications, pode vir a ajudar no desenvolvimento da cosmética.
February 09, 2016
Empresa portuguesa cria base de dados para tornar a indústria espacial mais limpa
Por trás de cada lançamento no espaço da Agência Espacial Europeia (ESA) estão anos de trabalho. Veja-se a famosa sonda Roseta: o aparelho foi lançado em 2004, mas a missão tinha sido aprovada muito antes, em 1993. Além do trabalho científico no desenvolvimento do satélite, houve a construção da sonda e do foguetão que a enviou para o espaço, o que requereu matéria-prima, material usado no trabalho fabril e combustível. Neste processo e na escolha de certos materiais, pode haver impactos no ambiente da Terra e na saúde dos trabalhadores que a ESA quer evitar.A agência está a trabalhar num método para que, no desenvolvimento dos projectos espaciais, se escolham materiais e procedimentos que tornem as missões mais amigas do ambiente e reduzam os riscos do projecto. Neste contexto, a empresa portuguesa ISQ (antigo Instituto de Soldadura e Qualidade) foi contratada para desenvolver uma base de dados que torne possível a comparação de cenários diferentes de matérias-primas e processos fabris
March 03, 2016
Cientista portuguesa retira artigo após suspeita de ter manipulado imagens
É um caso que promete dar que falar na comunidade científica portuguesa. Sónia Melo, que até há bem pouco tempo era apontada como uma das mais promissoras investigadoras do país, enfrenta agora acusações de manipulação do seu trabalho, que já a levaram a retirar um artigo publicado na revistaNature Genetics, em 2009. Há outros quatro artigos científicos (papers) por si publicados desde então que estão sob suspeita. Face às acusações, a Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO, na sigla em inglês), que em Dezembro lhe tinha atribuída uma bolsa de 50 mil euros, retirou-lhe o prémio na segunda-feira. E as suas funções no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S), no Porto, foram suspensas também esta semana.
October 06, 2012
Agricultura biológica aumentou 20 vezes a área em apenas década e meia
Entre 1994 e 2011, o número de pessoas que estão a produzir de forma biológica cresceu de 234 para quase 6000. Volume de negócios do sector já ronda os 20 milhões de euros por ano.
A agricultura biológica ocupou, no ano passado, quase 220 mil hectares de terra em Portugal, o valor mais alto desde 2007. E o número de produtores dedicados a produzir alimentos ou pastagens neste modo de produção disparou de uns escassos 234 em 1994 para 5938 no ano passado, o número mais elevado dos últimos 17 anos.
Há 15 anos, o território ocupado pela produção biológica - que não recorre a pesticidas, adubos químicos de síntese ou organismos geneticamente modificados - pouco ultrapassava os 12 mil hectares. O crescimento foi contínuo até 2007, mas mudanças de política, que, segundo o ministério, "orientaram parte da produção para a produção integrada", travaram a evolução positiva e fizeram recuar o número de hectares. As quedas foram expressivas até 2009, mas a curva do crescimento voltou a romper no ano seguinte
March 06, 2014
Musgo renasce 1500 anos depois de ser congelado na Antártica
Após ter estado congelado durante 1500 anos numa camada de gelo na Antártida segundo a pesquisa de "Current Biology" este foi o primeiro musgo que conseguiu sobreviver durante um longo período de tempo.
Até então, a única forma de vida conhecida por sobreviver durante milhares/milhões de anos eram as bactérias.
"Este experimento demonstra que organismos multicelulares, plantas neste caso, podem sobreviver a períodos de tempo muito mais longos do que se pensava anteriormente. Este musgo, parte chave do ecossistema, conseguiu sobreviver a períodos centenários ou milenares de avanço do gelo, como a Pequena Era do Gelo na Europa", disse Peter Convey, do British Antarctic Survey, um dos autores do estudo.
Os cientistas capturaram amostras das profundezas de um banco de musgos congelados na Antártica.
Os cientistas cortaram os núcleos desta planta e os colocaram em uma incubadora, a temperaturas e níveis de luz que estimulariam seu crescimento em condições normais. Depois de algumas semanas, o musgo começou a crescer.
Técnicas de datação de carbono mostraram que as plantas originais tinham pelo menos 1.530 anos de antiguidade.
"Apesar de ser um grande salto com relação à descoberta atual, isto representa a possibilidade de formas de vida complexas sobrevivendo a períodos ainda mais longos ao permanecer presos no permafrost ou no gelo", disse Convey.
Após ter estado congelado durante 1500 anos numa camada de gelo na Antártida segundo a pesquisa de "Current Biology" este foi o primeiro musgo que conseguiu sobreviver durante um longo período de tempo.
October 09, 2015
Genética dos elefantes explica porque têm poucos cancros
O cancro é uma doença que raramente afecta os elefantes. Um novo estudo analisou a genética do maior mamífero terrestre e concluiu que os elefantes africanos têm cerca de 40 cópias do gene da proteína p53, que inibe a formação de tumores. Enquanto os humanos têm apenas duas cópias. Esta será uma das razões para a doença afectar menos elefantes, segundo um trabalho publicado na revista Journal of the American Medical Association.
Segundo os investigadores, quando o ADN de uma célula do elefante é lesionado, estas proteínas são logo activadas e a célula suicida-se, evitando assim o desenvolvimento do cancro. Este fenómeno explica, pelo menos em parte, aquilo que parece ser um paradoxo. Cada célula tem o potencial teórico de originar o cancro e os elefantes têm muitas mais células do que os humanos. Por isso, deveriam sofrer mais desta doença, no entanto têm menos cancros do que os humanos.
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